O racismo sempre existiu e não acabou. Muitos que se consideram cultos dizem que não são racistas até um negro entrar para sua família. No momento de atos racistas como este de torcedores jogarem banana no campo ou fazerem ruídos feito macacos quando um jogador negro pega a bola tornou-se notório, discutido e surgem campanhas. Li um texto no Jornal Zero que apresenta uma visão diferente do que parece ser o correto no momento. Somos todos macacos? VALE A PENA CONFERIR!!
Não. O ato de Daniel Alves no jogo contra o Villarreal pode ser
considerado um enfrentamento ao racismo. Ao juntar a banana e comê-la,
desconstruiu ao vivo o ato racista frente a milhões de pessoas que
assistiam ao jogo. Concluiu lembrando através das redes sociais que o
alimento lhe deu energia para o jogo, considerando ser um alimento
utilizado por atletas. Quem não lembra, por exemplo, das paradas
estratégicas de Guga Kuerten. No entanto, assumir que somos todos
macacos
autoriza
que as iniciativas de jogar bananas no gramado e imitar o som de
animais prossigam. Não somos macacos. Ninguém é. Somos humanos, mesmo
sem todos os direitos.
O argumento utilizado pela campanha lançada por Neymar, proposto por uma
agência de publicidade, e que teve grande repercussão nas redes não é
suficiente, pois, neste caso, não se trata de um apelido que pode “pegar
ou não”. Trata-se da manutenção de um discurso de desumanização do
negro, iniciado há quase 600 anos por pressupostos evolucionistas.
Apesar de o evolucionismo natural e depois social ter sido sistematizado
como conhecimento científico na segunda metade do século 19, por Darwin
e Spencer, sucessivamente, a escala de superioridade de civilizações,
em função da cor da pele, principalmente, sustentou todo o tráfico
escravista. Grosso modo, inicialmente, os negros foram apontados pela
Igreja como sem alma e os índios como crianças que precisavam ser
civilizadas. Depois, os negros foram mantidos como bens móveis, assim
como os animais de fazenda. Nesse processo, os europeus
colocaram-se acima dos outros povos, encontrando discursivamente argumento para sobrepujá-los cultural e fisicamente.
Essas lógicas foram assumidas na constituição do Brasil como nação e,
apesar de nos definirmos como o país das três raças e exemplo de
democracia racial, mantidas na estrutura social até nossos dias. Todos
os índices socioeconômicos comprovam essa afirmação. A luta pelo direito
à cidadania passa efetivamente pela derrubada desses estereótipos e não
pelo seu reforço. Sabe-se que historicamente o deslizamento de sentidos
de expressões, como “negro”, funcionou como estratégia de positivar um
discurso negativo. No entanto, a imagem do macaco não tem como ser
positivada, mesmo que assumida, pois o símio nunca será humano.
Comparar ao macaco, em cantos, bananas jogadas ou onomatopeias, não se
trata somente de uma comparação em função da cor da pele, ou mesmo pela
origem continental, trata-se de uma estratégia que mantém os negros como
desumanizados, ou seja, incapazes de atender às demandas da chamada
civilização ocidental principalmente no atual desenvolvimento do
capitalismo que exclui. Apesar de não dito, essa relação de saber-poder,
mantém os privilégios de poucos. Assumir é congelar essa imagem. Não.
Não somos macacos. Somos humanos.
*Professor de Jornalismo da Ulbra, doutor em Ciências da Comunicação